Funcionária raspa cabeça no Candomblé e é demitida de empresa em MT: ‘Além de negra, macumbeira’

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“Não adianta procurar a Justiça, pois não vai dar em nada, já que a empresa já foi processada várias vezes e nunca perdeu”. Foi isso que uma mulher, de 41 anos, ouviu ao ser demitida por uma terceirizada de serviços gerais, em Cuiabá, após ter raspado a cabeça em iniciação no Candomblé. A vítima registrou nesta terça-feira (22) o boletim de ocorrência por intolerância religiosa, preconceito de raça e cor e constrangimento ilegal no local de trabalho.

“Além de ser negra, ainda é macumbeira. Você tem que procurar Deus para se salvar”, disse uma supervisora da empresa. E voltou a repetir: “Pessoa da sua cor e macumbeira não pode participar do quadro de funcionários dessa empresa”. Os trechos constam no registro policial.

Segundo o BO, a vítima trabalhava em uma empresa que presta serviço terceirizado de limpeza em Cuiabá e outros estados desde junho de 2019 e foi demitida este mês. Ela relata que passou pelo ritual de iniciação no Candomblé, no qual raspar a cabeça é tradição da religião de matriz africana. Quando voltou ao trabalho, no dia 8 deste mês, já com medo da discriminação, chegou a usar seis tocas para disfarçar.

Um dia, porém, no banheiro, sem perceber, foi vista sem toca pela supervisora, que questionou o porquê de ela estar com a cabeça raspada. Ao indagar a funcionária, a responsável pelo setor chegou a perguntar se a colaboradora estava com câncer. A vítima respondeu que não estava doente e, em seguida, sua supervisora exclamou que entendeu e saiu do local indo direto para o escritório. 

A funcionária foi chamada ao escritório no dia 17 deste mês, nove dias depois do ocorrido no banheiro, onde foi obrigada a tirar a toca da cabeça sob ordem da gerente. A gerente disse que “esse tipo de religião” não cabia na empresa, foi quando ouviu que “além de ser negra era também macumbeira”. Conforme relata, o constrangimento continuou e a gerente afirmou que ela tinha que “procurar Deus para se salvar”.

A moça foi obrigada ainda a assinar um aviso prévio que já estava com data de 11 de setembro, ou seja, seis dias antes da data em que foi comunicada que seria demitida. 

Diante da situação constrangedora, a vítima está abalada emocionalmente e passará por avaliação psiquiátrica para tratar de depressão. 

Ela foi iniciada no Ilê Axé Egbé Osogbo Omo Orisá Osun, que significa Sociedade Espiritual dos filhos da Orixá Oxum, uma casa de Candomblé inaugurada há um ano em Várzea Grande. 

A Iyalorixá Edna de Oxum, que é zeladora espiritual da vítima e presidente do Ilê Axé, afirma que está indignada e esta situação não cairá no esquecimento. O caso é investigado.

RD News

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