Hospitais filantrópicos fecham as portas por falta de recursos

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A Gazeta


Chico Ferreira

Santa Casa da Misericórdia é um dos 3 hospitais que deixam de atender pelo SUS nesta sexta-feira

Três hospitais filantrópicos de Cuiabá, credenciados ao Sistema Único de Saúde (SUS), irão fechar as portas na próxima sexta-feira (18). A única saída para que não encerrem as atividades é o governo do Estado providenciar o repasse de R$ 12,7 milhões, que segundo eles são referentes ao aporte financeiro acordado com o ex-secretário de Estado de Saúde, Eduardo Bermudez, e mantido pelo seu sucessor João Batista Pereira da Silva. Entretanto, em fevereiro deste ano o repasse deixou de ser feito. 

Hospital Geral Universitário, Santa Helena e Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá já deixaram de receber novos pacientes que necessitam de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) devido a falta de recursos para manutençao do serviço. “É de conhecimento público que os hospitais filantrópicos passam por dificuldades financeiras em decorrencia da defasagem da tabela SIGTAP/SUS e aos constantes atrasos nos repasses dos valores de custeio e incentivo, o que levou a insolvencia financeira das instituiçoes”, afirma a presidente da Federaçao das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas Prestadoras de Serviço na Área da Saúde do Estado de Mato Grosso (Fehos/MT), Elisabeth Meurer.

“Estão suspensos os serviços de obstetrícia do HGU e o pronto-atendimento de pediatria e leitos de retaguarda da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá e até sexta-feira (18) os hospitais paralisados irão auxiliar, com insumos e medicamentos, o Hospital Santa Helena para continuar com serviços de forma emergencial. Caso não ocorra aporte financeiro devido, os hospitais encerrarão suas atividades”, completa.

A federação estima que cerca de 7 mil pacientes deixaram de ser atendidos nesta primeira semana de paralisação de apenas alguns serviços, mas com o encerramento das atividades dos filantrópicos irão sumir da rede pública de saúde 672 leitos de enfermaria e 158 leitos de UTI, somando 830 leitos no total. Além disso, cerca de 1.040 pessoas ficarão sem atendimentos por dia, o que representaria 3,5 mil internações e cerca de 900 partos por mês que são realizados pelos filantrópicos. Toda essa demanda teria que ser absorvida pela rede municipal de saúde.

João Vieira

Direitores dos hospitais filantrópicos convocaram coletiva para anunciar fechamento das portas

“Se nada for feito, lamentavelmente, depois de 35 anos de funcionamento, o Santa Helena irá encerrar as atividades, assim como os outros filantrópicos. O representante do Santa Casa de Rondonópolis não pode vir a Cuiabá, mas também passa pela mesma dificuldade”, afirmou o representante do Santa Helena, Marcelo Sandrin.

Enquanto representantes dos filantrópicos falavam da ameaça de fechar, a dona de casa Dejanira Santos, 49, aguardava notícias da sobrinha Maricelma Rodrigues, 30, que havia ido ao Santa Helena fazer uma cesárea. “Ela tem pressão alta e a cirurgia é de risco. Foi recebida pela equipe médica e o marido está acompanhando o parto. Se não fosse esse hospital nem sei para onde ela iria. Talvez par ao Júlio Müller, mas lá não tem vagas”, destaca. “É uma tristeza ouvir falar que o Santa Helena pode fechar as portas. Nossa saúde está muito precária. Nem mesmo remédio nas unidades de saúde a gente está encontrando mais”, desabafa.

Representando a Santa Casa de Cuiabá, Diúlio Maiolino revelou que desde 2015, por diversas vezes, os filantrópicos realizaram reunioes com gestores para detalhar as dificuldades. Atendendo uma orientaçao do governo do Estado, as entidades contrataram uma empresa especializada em consultoria hospitalar, a Planisa, que fez um diagnóstico de 18 meses e confirmou a necessidade de complementaçao de receita. “Hoje a Santa Casa atende 90% SUS e nao temos mais como continuar assim. Vamos desativar o pronto-atendimento e os leitos de retaguarda, na tentativa de sobreviver”.

Já a representante do HGU, Flávia Silva, destaca que cerca de 3 mil profissionais, entre colaboradores e médicos, estão em dificuldades financeiras. “Não há mais dinheiro nem para arcar com a folha de pagamento, nem comprar insumos para atender os pacientes, nem para manutenção das unidades, seja alimentação ou material de limpeza. Chegamos ao fundo do poço e precisamos encontrar caminhos para sair desta situação”.

A Federação destaca que em 2016, do total dos déficits levantados para o custeio, foram repassados 69% deste valor, não cobrindo o custo efetivo. O Estado se comprometeu a fazer um estudo de como manter as unidades e até cobrir os 100% dos déficits, visto que o custeio da saúde sendo tripartite, deveria ser custeada pelo Município, Estado e União.

Colapso

Para evitar o que chamou de “colapso na saúde”, cerca de 35 secretários municipais de saúde se reuniram na segunda-feira (14) com o secretário da Casa Civil, José Adolpho Vieira. Para a presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de mato Grosso (COSMS) e secretária de Saúde de Porto Alegre do Norte (1125 km de Cuiabá), Silvia Sirena, se os filantrópicos fecharem as portas será o caos. “Se o interior ainda está tendo algum suporte na área é porque a Capital está recebendo esses pacientes. Hoje a média e alta complexidade está nas maos dos filantrópicos e sem eles a saúde entraria em colapso”, afirma.

Ela ainda aponta ainda que há um ano nenhum dos 141 municípios recebe repasse da assistência farmacêutica do Estado, que seria de R$ 2,05 (25%) por habitante de cada município, verba para medicamentos básicos de saúde.

Secretária de saúde de Cuiabá, Elizabeth Araujo aponta que a esperança é que os filantrópicos não fechem as portas já que realizam 68% dos atendimentos do interior. Na visão dela, o maior risco seria para as gestantes de alto risco. “Não temos para onde encaminhar gestantes de alto risco. Apenas o Hospital Universitário Júlio Müller atenderia pelo SUS e ele não tem leitos suficientes. A maioria dos leitos está no HGU e no Santa Helena, sem esse atendimento muitas mulheres grávidas podem morrer”, alerta.

Outro lado

O Gabinete de Comunicação do Estado ficou de encaminhar esclarecimentos sobre o assunto, mas até o fechamento desta edição não se posicionou. Na semana passada o governo afirmou que no final de 2016, diante das dificuldades financeiras enfrentadas pelos hospitais filantrópicos, o governador Pedro Taques autorizou um repasse emergencial para os hospitais durante 3 meses. Que foram repassados R$ 2,5 milhões em dezembro de 2016, janeiro e fevereiro de 2017, totalizando R$ 7,5 milhões. Entretanto, destacou que o Estado não tem condições de continuar com o auxílio financeiro “diante da crise econômica e da escassez de recursos”.

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