Hostilidades nas diplomações dão o tom da polarização em 2019

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Se o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) tem tentado demonstrar algum esforço, ainda que tímido, em anunciar que vai governar democraticamente para todos os brasileiros, o mesmo tom não tem sido visto em parte da população e entre os novos parlamentares.

As diplomações que ocorreram nesta semana em São Paulo, no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais foram marcadas por relatos de agressão entre os diplomados, com apoio do público.

O caso mais divulgado foi o de São Paulo, por causa da confusão que ocorreu quando a deputada estadual eleita Mônica Seixas (PSol) subiu ao palco acompanhada de outros integrantes da Bancada Ativista, representada por ela e que obteve quase 150 mil votos, a décima candidatura mais votada para a Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).

O deputado federal eleito Alexandre Frota (PSL) empurrou o “codeputado” Jesus dos Santos, da Bancada Ativista, que se recusou a se retirar do palco após exigência do presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral).

Divididos entre simpatizantes de partidos como PSL e PT, o público se manifestou com aplausos e vaias ao longo da cerimônia.

O tumulto também foi registrado no Rio Grande do Sul, mas com intensidade ainda maior. Houve vaias e gritos.

A deputada estadual eleita Luciana Genro (PSol) foi hostilizada quando levantou um cartaz com pedido de justiça por Marielle Franco. Já a deputada federal Maria do Rosário (PT), que move um processo contra o presidente eleito por apologia ao estupro, foi recebida com gritos de Bolsonaro e “a nossa bandeira jamais será vermelha”.

Em Minas Gerais, além de vaias, a diplomação teve troca de socos entre os políticos e chegou a ser suspensa.

O deputado federal eleito cabo Junior Amaral (PSL) tentou arrancar do futuro colega de Câmara Rogério Correia (PT) uma placa onde estava escrito ‘Lula livre’, e os dois partiram para a agressão física. Os gritos na cerimônia eram de ‘Lula livre’ e ‘respeito ao público, ladrão é na cadeia’.

Reprodutor de vídeo de: YouTube (Política de Privacidade)

Diálogo

Além dos atos nas diplomações, falas recentes de parlamentares eleitos sinalizam que a polarização da campanha eleitoral deve seguir para dentro do Congresso Nacional no próximo ano. Em entrevista ao Poder360, a deputada eleita Joice Hasselmann (PSL) afirmou que a deputada eleita Gleisi Hoffmann (PT) será da sua “cota pessoal”.

“Os debates com a Gleisi serão feitos comigo. Não vai ser com o Eduardo Bolsonaro, não vai ser com ninguém dos nossos eleitos. Com a Gleisi eu me acerto lá na Câmara”, disse.

Para a especialista em comunicação não-violenta (CNV) Carolina Nalon, do Instituto Tiê, o Brasil vive na política um período que se assemelha ao processo da infância, no qual “quem grita mais alto ganha a briga”. É hora de mudar para a cultura do diálogo e isso, na avaliação dela, não vai vir da classe política.

“Nos exemplos citados, dá para fazer uma comparação com uma briga entre crianças de 10 anos. É um nível muito infantil, e até os debates políticos não são desenhados para que exista um diálogo. Uma pessoa pergunta uma coisa e outro responde o que ele quer, além de ter um agravante de não ter existido debate.”

Nalon destaca que a agressão “é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida”. Para superar a polarização, diz ela, há um trabalho dobrado de o oprimido estar disposto ao diálogo.

“Não estou falando do PT, mas da Maria do Rosário, como mulher, e do Jesus, como um homem negro, que precisou colocar o braço para cima. Isso vai exigir paciência. Vimos um pouco disso no segundo turno, e as pessoas têm de ter consciência de que não acabou, elas vão precisar criar ambientes por diálogo por mais tempo, sem se cansar dessa missão (…) Tenho certeza de que quando for dar o passo para frente, vamos dar mais, porque teremos aprendido a dialogar.”

A agressão é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida.Carolina Nalon, especialista em comunicação não-violenta

Em entrevista ao HuffPost Brasil no fim de novembro, o historiador Leandro Karnal seguiu a mesma linha de raciocínio de Carolina Nalon. Ele ressaltou que “o problema que embasa todo projeto autoritário é que eu transformo divergência em eliminação e não reconheço no outro que pensa diferente um adversário legítimo”.

“O problema atual é não reconhecer legitimidade ou sequer a condição de brasileiro ao opositor. Todos nós, políticos e eleitores, devemos aprender o desafio do diálogo que não seja unanimidade. De novo e sempre: quem pensa diferente de mim não é meu inimigo. O Brasil não é meu e não é seu, e existe a remota possibilidade, vaga, pequena, minúscula de que toda a virtude e inteligência do mundo não esteja concentrada em mim ou no meu grupo.”

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