Alan Malouf afirma que Taques tentou barrá-lo em licitação

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Celly Silva

Chico Ferreira

Chico Ferreira

Delator e réu já condenado na operação Rêmora, que apura esquema de fraudes na Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc) em decorrência de um suposto esquema de caixa 2 na campanha do governador Pedro Taques (PSDB), em 2014, o empresário Alan Malouf, dono do Buffet Leila Malouf, afirmou ao Ministério Público Federal (MPF), que quase foi barrado de participar de uma licitação para que outros empresários, supostamente também pagadores de propina, fossem beneficiados no atual governo.

 

No depoimento prestado em 30 de novembro de 2017, Alan Malouf foi questionado pelo procurador do MPF se todos os empresários que contribuíram com o caixa 2 de Taques foram beneficiados. Ele passou a relatar que, de sua parte, apenas havia participado de uma licitação para alimentação nos presídios do Estado, mas que acabou perdendo para outra empresa que ofereceu preço R$ 6 mais barato que o dele. 

“A minha parte eu nunca tive nenhum benefício fiscal e participei somente de uma licitação, que eu mexo com empresa de alimentação e ainda perguntei pro Pedro: Pedro, você tem alguma restrição de eu participar de uma licitação de alimentação para o presídio? Ele falou: Não, de maneira nenhuma! Eu falei: Só estou te perguntando porque qualquer coisa eu me abstenho de participar”, relatou.

 

Malouf afirma que o preço oferecido por sua empresa foi de R$ 16,50, o que incluía café da manhã, almoço, jantar e ceia por presidiário, por dia. “Estranhamente, a empresa que ganhou, ganhou por R$ 10,50”, afirmou, apontando tal preço como “inexequível”, uma vez que se gasta com materiais, mão-de-obra, impostos, entre outros custos. 

O delator conta que ao perder a licitação, fez uma planilha com esses detalhes da composição do preço do serviço oferecido e a apresentou para o governador, na garagem de sua certa. “Falei: Pedro, está aqui. Como é que se explica um negócio desse? Isso aqui tem esquema. É claro que tem esquema! Eu não vou chegar nesse preço pra ter esquema”, teria dito ao governador, que, por sua vez, afirmou que iria “ver o que estava acontecendo”. “E não viu nada, não foi visto nada”, reclamou Malouf em seu depoimento.

 

Posteriormente a esse episódio, Alan Malouf relata que ficou sabendo pelo ex-secretário de Gestão, Júlio Modesto, que houve uma interferência do então chefe da Casa Civil Paulo Taques par impedi-lo de participar da licitação. 
“No momento anterior a licitação, o próprio ex-secretário da Casa Civil, primo do Pedro Taques, que é o Paulo Taques, chamou o Júlio Modesto numa escadaria e falou: Júlio, pede pro nosso amigo não participar da licitação da alimentação. O Júlio falou: não estou entendendo, que amigo?”. 

Paulo Taques então teria dito que se tratava de Alan Malouf e Júlio Modesto ainda teria questionado o motivo da retaliação, uma vez que Alan foi um dos que mais ajudaram na campanha. Ele ainda teria salientado a Paulo Taques que a licitação seria feita “dentro da normalidade”.

 

Em resposta, Paulo Taques teria dito a Modesto que realmente Alan havia ajudado o grupo político de Pedro Taques, porém, que havia outros empresários que também ajudaram. Modesto ainda questionou quais, pois não estavam na prestação de contas da campanha. 

Após saber dessa tentativa de retaliação, Alan Malouf conta que procurou Pedro Taques para contar o que ficara sabendo. Segundo ele, o governador disse: “Não, fica tranquilo que vou conversar com Paulo”. O delator afirma desconhecer se isso realmente foi feito, mas que apenas acabou perdendo a licitação, supostamente para outro empresário que também mantinha “esquema” com o governo.

 

Outros empresários

Em resposta ao questionamento sobre os benefícios que os empresários doadores de campanha teriam recebido do governo, Alan Malouf ainda citou outros três nomes.

 

Segundo ele, Erivelton Gasques, dono da extinta City Lar, era beneficiado com incentivos fiscais. “Ele me confidencializava que se o Pedro tirasse o benefício, ele estava enrolado. Só que esse benefício perdurou durante um ano e pouco. Depois eu perdi o contato e não sei se hoje ainda está […] O que eu fiquei sabendo é que o Erivelton, há mais ou menos um ano e meio atrás, alugou um imóvel no valor de R$ 85 mil para o governo, pelo que eu fiquei sabendo pra pagar essa conta dele”, disse. 

Outro citado é Juliano Bortoloto, dono da Todimo Materiais de Construção. “O que eu sei é um benefício de procedimento, não é específico pra ele”. Malouf também citou o primo e sócio da construtora São Benedito, Marcelo Maluf. “Ele é do ramo imobiliário e aluga vários imóveis para o governo, mas isso desde a gestão passava, antepassada”, resumiu.

 

Outro lado 

 

Na sexta-feira (19), quando foi levantado o sigilo da delação premiada de Alan Malouf, o governador Pedro taques, disse, por meio de nota enviada pela assessoria, que nega as acusações de Alan Malouf relativas à sua campanha eleitoral e ao suposto esquema de fraudes na Seduc. Confira a nota na íntegra:

 

Conforme já declarado desde 2016, o governador Pedro Taques nega a prática do chamado “Caixa 2” em sua campanha eleitoral ao Governo de Mato Grosso em 2014 e tampouco autorizou vantagens indevidas a qualquer empresa durante o exercício do mandato. Apesar de citado por delator em acordo de delação premiada, Taques não é réu no processo da chamada “operação Rêmora” e terá direito a ampla defesa nos autos. O governador já constituiu advogados para atuar no processo e garantir que a verdade prevaleça.

 

O ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, afirmou que somente irá se manifestar quando tiver acesso a íntegra da delação. 

 não conseguiu contato com os empresários Marcelo Maluf, Juliano Bortoloto e Erivelton Gasques. 

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