Sem equipe médica em 11 setores, unidade vive caos

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Aline Almeida

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Otmar de Oliveira

Otmar de Oliveira

Onze setores no Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), em Cuiabá estão sendo afetados pela falta de profissionais. Fechamento ou risco de paralisação de serviços e redução de atendimento são algumas das consequências elencadas. A Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTI) e a unidade Psicossocial, referência no atendimento de vítimas de violência sexual, correm risco de fechar. O alerta consta em relatório do Ministério Público Federal (MPF).

 

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O pronto-atendimento pediátrico, por exemplo, está suspenso há mais de um mês por falta de médicos e enfermeiros. A situação, causada por licenças e aposentadorias, já é conhecida pelas entidades de classe, que atribuem o problema à falta de planejamento a administração, realizada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).   

 

“No atendimento pediátrico eram disponibilizadas cerca de 70 fichas por dia. Teve que ser reduzida em menos da metade pois dois enfermeiros estão em licença e apenas um atende no período noturno. No período vespertino, não há atendimento”, confirma um funcionário da unidade que prefere não se identificar.   

 

O funcionário alega ainda que o problema está comprometendo todas as estruturas da unidade e todos os setores estão sofrendo com a falta de profissionais. “Infelizmente é isso, o povo está tendo o atendimento prejudicado por uma falta de planejamento no hospital. Os profissionais que estão à disposição estão sobrecarregados. Sem falar que todo o hospital está vivendo um sucateamento. Muitas vezes faltam materiais básicos para diversos procedimentos e temos que mandar o paciente de volta para casa sem atendimento”, alega.   

 

Segundo o presidente do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem de Mato Grosso, Dejamir Soares, as aposentadorias eram previsíveis e a empresa deveria ter se organizado para fazer contratações emergenciais. Quanto aos afastamentos, ele defende que será uma tendência, tendo em vista o estresse diário da sobrecarga de trabalho. Ele conta que entre os relatos feitos por funcionários ao sindicato, estão reclamações relacionadas à falta de cumprimento ou inexistência dos horários de repouso, bem como a presença de 2 técnicos de enfermagem e um médico por plantão, que costuma ter até 24 pacientes.  

 

Dejamir esclarece que o ideal é ter 5 pacientes para cada técnico, uma vez que no caso da clínica cirúrgica, por exemplo, é preciso ainda mais atenção. Ele esclarece que o técnico precisa virar o doente com frequência e ainda existem casos de pessoas com sondas e outros tipos de tratamento que exigem maior especial. “Uma rotina que amplia a possibilidade de erro da enfermagem e como consequência, o risco para o paciente”.  

 

Outro setor afetado no hospital é a unidade de clínica médica, composta por 24 leitos de enfermaria e mais 4 leitos de cuidados semi-intensivos. Segundo relatório, o serviço conta com somente 9 enfermeiros em atividade, um por período, quando são necessários 15 enfermeiros, sendo dois por período. Isso estaria refletindo na sobrecarga de trabalho e deficit na assistência aos pacientes. Na UTI neonatal não há docente para escala do setor e nem para cobrir férias. Como consequência existe o risco de fechamento do setor, sendo necessário a contratação de dois médicos neonatologistas.  

 

O relatório do MPF mostra também que o setor de cirurgia pediátrica, referência no atendimento à gestação de alto risco, conta apenas com um cirurgião pediátrico com o regime de 20 horas semanais, sendo impossível suprir toda a demanda. A UTI adulto corre risco de fechamento também pela falta de profissionais.  

 

Referência no atendimento de vítimas de violência sexual, a unidade psicossocial do hospital pode fechar. Ela dispõe atualmente de apenas um psicólogo e um psiquiatra. Não há quadro para o atendimento contínuo, sendo necessário a contratação de dois psiquiatras, 5 psicólogos e 3 assistentes sociais. O relatório aponta o fechamento do ambulatório de pneumopediatria. Com a aposentadoria do médico e não preenchimento da vaga, o serviço deixou de ser prestado. Todos os docentes da clínica de cirurgias também se aposentaram. Há falha na cobertura 24 horas da enfermaria clínica cirúrgica, sendo necessário o preenchimento das vagas, inicialmente, de no mínimo 3 cirurgiões gerais.  

 

O serviço de anestesiologia é outro afetado, sendo necessária contratação de um médico anesteologista para funcionamento do centro cirúrgico. A cardiologia conta atualmente conta com dois médicos cedidos pela Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá. Dois médicos estão prestes a entrar em licença maternidade, um médico perto de se aposentar e um com redução de carga horária de atendimento. É preciso a contratação de 5 médicos cardiologistas para a manutenção dos serviços de ecocardiografia, holter, ergometria e ambulatório.  

 

Dispensados   

 

Um aparelho para examinar retina, quebrado há 5 meses, fez com que cerca de 100 cirurgias de deixassem de ser feitas no Hospital Júlio Müller. A confirmação é do oftalmologista especializado em retinologia, André Mozena. Segundo ele, muitos pacientes estão ficando cego devido à falta de tratamento. O setor sofre com falta de insumos constantemente e de equipamentos quebrados. Uma das medidas, conforme o especialista foi “dispensar” os pacientes, já que não há previsão de que os procedimentos sejam retomados.   

 

“Os pacientes vinham aqui para tratamento e o equipamento estava quebrado, voltava no outro mês a mesma coisa. Estávamos somente segurando o paciente e o hospital não resolvia a situação do aparelho. Estava vendo pessoas ficarem cegas na nossa frente devido a falta do tratamento. Não adiantava segurar o paciente, por isso já dispensamos. Estamos orientando os pacientes a irem à justiça para conseguir atendimento”.   

 

Sem previsão   

 

O Ministério Público Federal encaminhou ao hospital uma carta recomendatória, pedindo a contratação imediata de novos profissionais para que o atendimento à população seja garantido. A equipe de reportagem esteve no local e constatou que a questão ainda está longe de ser resolvida.   

 

A dona de casa Joice Maeli, por exemplo, perdeu viagem e precisou correr para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em busca de socorro para a filha de 1 anos e 2 meses. Ela conta que trata no hospital desde a gravidez e sempre volta quando tem problema porque confia nos serviços. Por este motivo, quando a menina caiu do berço e bateu a cabeça no chão, ela não pensou duas vezes. Veio correndo, com o apoio do marido e ficou ainda mais preocupada quando a menina vomitou. “Eu me sinto frustrada com esta situação porque nós pagamos impostos e temos o direito de ser atendidos quando precisamos”.   

 

Outro lado   

 

O Hospital Universitário Júlio Müller e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) esclarecem que não é verdadeira a afirmação de que vários serviços estão comprometidos por falta de pessoal no Hospital Universitário Júlio Muller. A estatal ressalta que desde que assumiu a gestão da unidade contratou mais 422 profissionais das áreas médica, assistencial e administrativa. Hoje, a unidade conta com 800 servidores e empregados públicos.   

 

Atualmente, o setor que está com dificuldades é o Pronto Atendimento Infantil, por conta da aposentadoria e saída de alguns profissionais. A gestão do hospital e a sede da Ebserh estão em contato visando encontrar soluções para o assunto.   Cabe ainda ressaltar que a Ebserh vai esclarecer todas as informações ao Ministério Público Federal e responder aos questionamentos apresentados.

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