Karine Miranda, repórter do GD
Cada vez mais cobiçadas, principalmente entre as mulheres, as cirurgias plásticas se tornaram mais baratas e acessíveis, inclusive com novas formas de pagamento. Mas é preciso atenção para que o barato não signifique risco ao paciente. O alerta é do médico Michel Patrick, que atua como cirurgião plástico há uma década e também é professor de medicina na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Divulgação Cirurgião plástico Michel Patrick |
Ele pondera que não vale tudo para realizar a tão sonhada cirurgia plástica, muito menos procurar profissionais pelo preço que cobram. Isto porque, quanto menor o preço, maior o risco ao paciente em razão da possibilidade de que o procedimento seja feito em uma unidade de saúde que não tenha Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), por exemplo.
“À medida que eles vão cortando os gastos, vai diminuindo a segurança. Se o hospital não tem retaguarda interessante, é um risco ao paciente, ainda mais se fizer mais de um procedimento que ultrapassem as 4 horas, pois este é o tempo máximo indicado para reduzir os riscos das cirurgias”, disse o profissional em entrevista ao Gazeta Digital.
Segundo o médico, não existe uma obrigação de que os procedimentos sejam feitos em hospitais com UTI, mas o bom senso orienta os médicos e pacientes a priorizarem locais que tenham a Unidade de Tratamento Intensivo, principalmente para quem vai fazer mais de uma cirurgia por vez.
“Não há nada que fale que é obrigado ter UTI, mas a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica orienta que todas as cirurgias sejam feitas em lugar que tenha um suporte de UTI. É uma recomendação muito importante”, destaca.
O alerta ocorre depois de a jovem Edléia Danielle Ferreira Lira, 33, morrer em decorrência do choque hemorrágico após se submeter a duas cirurgias plásticas no Hospital Militar, em Cuiabá, e ter de aguardar por horas até conseguir uma transferência para outro hospital que tivesse UTI.
Divulgação Edléia Danielle Lira morreu por complicações após cirurgias plásticas feitas em Cuiabá |
Danielle passou por uma lipoescultura e mamoplastia redutora, que durou cerca de 6 horas, com o médico Eduardo Santos Montoro, pelo programa “Plástica Para Todos”. Ela pagou em torno de R$ 6 mil pelos procedimentos, incluindo a internação e anestesia.
Segundo o cirurgião Michel Patrick, preços tabelados e ofertas em redes sociais, como ocorre com o “Plástica Para Todos”, não é o método recomendado para quem pretende fazer cirurgia plástica.
Inclusive, o próprio médico é proibido de participar desse programa. Ambas as situações são repudiadas pelo Código de Ética Médica, Conselho Regional de Medicina (CRM) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
“Eles são contra, porque é como se tivesse fazendo o mercantilismo da medicina. Isso não é aceito. O médico precisa avaliar o paciente. Não só falar o valor da cirurgia independentemente da condição de cada paciente, pois tudo depende da avaliação do médico”, explicou.
“O aconselhável é ter consulta com médico, conversar, avaliar. Até a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica emitiu uma normativa proibindo os médicos cirurgiões plásticos de participarem desse tipo de programa, pois a partir do momento que eu estou tentando ganhar pacientes através de preços, estou descumprindo uma norma do Código de Ética Médica”, complementou.
A orientação, segundo o médico, é procurar um profissional que tenha o registro junto ao Conselho de Medicina e à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, além de realizar todos os exames pré-operatórios recomendados, que variam de acordo com a cirurgia a ser feita.
Além disso, também é preciso que pacientes (mulheres e homens) tenham ciência de que não basta ter uma boa saúde e estar com os exames em dia, que será possível realizar várias cirurgias de uma vez, em razão do aumento do risco cirúrgico.
“Se a cirurgia passa de 4 horas, os riscos aumentam e muito. O porte cirúrgico, que é a complexidade do procedimento, também aumenta os riscos. Sempre falo que o paciente da cirurgia plástica entra bem e tem que sair melhor. Por isso, é importante a segurança e a ciência de que custos lá embaixo implicam em riscos lá em cima”, encerrou.