Quem é Larry Flynt, o ‘rei do pornô’, que ofereceu US$ 10 milhões por informações que derrubem Donald Trump

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O ‘rei do pornô’ voltou com tudo. E, agora, tem na mira o presidente dos EUA, Donald Trump.

Larry Flynt, criador da revista Hustler, nos anos 1970, e produtor de filmes pornográficos desde 1998, já foi chamado de pervertido e inimigo do movimento feminista.

Também já protagonizou uma verdadeira cruzada pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que prevê o direito à liberdade de expressão, ao lutar pela legalização da pornografia.

Fachada do clube Hustler: A ideia de criar uma revista pornográfica começou nos clubes de striptease, como um folheto para promover as meninas que trabalhavam para Flynt© Getty Images A ideia de criar uma revista pornográfica começou nos clubes de striptease, como um folheto para promover as meninas que trabalhavam para Flynt

A volta de Flynt ao mundo das polêmicas, contudo, nada tem a ver com sexo. A nova controvérsia do homem de 74 anos, e que usa uma cadeira de rodas de ouro – uma bala o deixou paraplégico há quase 40 anos -, envolve o mundo da política.

Flynt publicou um anúncio de página inteira no jornal Washington Post, oferecendo US$ 10 milhões (cerca de R$ 31,5 milhões) em dinheiro para quem oferecer informações que levem ao impeachment de Trump.

Não é a primeira vez que o ‘rei do pornô’ usa anúncios para constranger políticos. Na década de 1970, ele ofereceu US$ 1 milhão por informações sobre condutas sexuais ilegais de membros do Congresso americano ou de qualquer outra figura pública.

Quase 40 anos depois, Flynt subiu a oferta e escolheu o atual ocupante da Casa Branca como principal alvo de sua iniciativa.

Mas quem é esse velho magnata do pornô? Como ele fez fortuna explorando a indústria do sexo, criando clubes de strip-tease, publicando uma revista pornô que passava por mais de três milhões de mãos por mês, além de ter cassinos, imobiliárias, produtoras de música e de videogame?

O início

O apartamento de luxo em Bervely Hills, o famoso bairro das estrelas em Los Angeles, está repleto de estátuas do imperador Romano Júlio César, tapetes, quadros barrocos e fotos com personalidades. O local em nada remete a infância pobre de Flynt, filho de uma dona de casa e de um veterano de guerra, em Lakeville, no estado americano de Kentucky.

Mas na casa há recordações do que veio depois do início difícil. Edições da revista Hustler, a revista que abriu as portas para legalizar a pornografia nos EUA, torsos esculpidos na forma de mulheres nuas e quadros de jogo de pôquer, paixão desde quando tinha 15 anos.

Uma certidão de nascimento falsificada permitiu o início da aventura de Larry Flynt. O garoto que buscava fortuna em jogos de azar passou a vender álcool nos tempos da lei seca, quando era proibido negociar bebida.

Trabalhando na ilegalidade no Kentucky, ele conta que um policial o obrigou a voltar para casa, depois de forçá-lo a tocar as partes íntimas do “homem da lei”.

Mas esse não foi o primeiro encontro com o sexo de Flynt. As memórias dele remontam aos 7 anos de idade, uma prima e uma galinha. Foi o encontro com o policial, contudo, que marcou o resto da vida de Flynt, segundo ele próprio.

Fachada de um dos clubes de Larry Flynt: Os negócios de Flynt incluem cassinos e clubes de striptease© Getty Images Os negócios de Flynt incluem cassinos e clubes de striptease

Flynt se alistou nas Forças Armadas para tentar sair do Kentucky e, assim como buscavam outros jovens daquela época, viver uma vida melhor. Serviu à Marinha e passou a operar radares. Cruzou diferentes mares e diz ter deixado “amantes em cada porto” até ir para a reserva no final de 1964.

Liberdade sexual

Com o salário de US$ 1,8 mil que passou a ganhar, comprou um bar para a mãe administrar em Dayton, Ohio.

Reformou o local e, em pouco tempo, conseguiu comprar outro e mais outro…

Era o início da revolução sexual, e Flynt pensou que sua clientela de bêbados endinheirados e viciados em anfetaminas ficaria satisfeita em fosse recebida por mulheres seminuas dançando no bar.

Foi o início do Hustler Club, um dos primeiros clubes de strip-tease dos EUA. Três anos depois, já tinha cinco unidades e, lá, as mulheres não se limitavam a dançar.

Para promover as garotas, Flynt decidiu criar um folhetim com diagramação simplória e de duas páginas, que ganhou o nome de Hustler Newsletter.

Nos tempos de hoje, o folhetim provocaria risos de tão simplório mas, naquela época, contava com todos os ingredientes necessários para se transformar num escândalo justamente por ter imagens de nudez.

O produto fez tanto sucesso que Flynt logo decidiu aumentar o número de páginas. Quando o negócio do clube de strip-tease parecia fracassar, após a recessão de 1973, o tal boletim tornou-se a Hustler, uma revista de sexo explícito.

A publicação levantou polêmicas por expor sem pudor imagens de pênis, vaginas e cenas de sexo capazes de fazer as concorrentes Playboy e Penthouse parecerem recatadas.

A revista atraiu a ira do movimento feminista pelo conteúdo sexista.

Mas não foi exatamente o fato de colocar a mulher como objeto que levou Flynt a enfrentar, em 1978 um juiz do condado de Gwinnett, na Geórgia. Foi pelo conteúdo obsceno da revista.

O povo contra Larry Flynt

Foi assim que Flynt deu início à sua luta por um mundo, segundo ele próprio, em que a pornografia fosse aceita como algo natural e cotidiano.

Ele recorreu à Primeira Emenda da Constituição dos EUA , que assegura liberdade de expressão e de imprensa, para levantar sua bandeira.

anúncio na capa do Washington Post: O anúncio do Washington Posto não foi o primeiro: nos anos 1970 Flynt ofereceu dinheiro por informações sobre a vida sexual de políticos© AFP O anúncio do Washington Posto não foi o primeiro: nos anos 1970 Flynt ofereceu dinheiro por informações sobre a vida sexual de políticos

Depois de uma longa discussão nos tribunais, a justiça decidiu que a publicação de pornografia no país é legítima, apesar da oposição dos moralistas.

Larry Flynt na cadeira de rodas de ouro: Larry Flynt ofereceu US$ 10 milhões por informações que provoquem o impeachment do presidente dos EUA© Getty Images Larry Flynt ofereceu US$ 10 milhões por informações que provoquem o impeachment do presidente dos EUA

Desde então, a ponografia deixou de ser censurada nos EUA. Mas Flynt, um dos que mais lutou pela causa, não pode comemorar a decisão judicial.

Na semana em que a pornografia foi liberada, um supremacista branco disparou contra o rei do pornô, que foi atingido com uma bala na barriga e ficou paraplégico.

Mas mesmo sem os movimentos da cintura para baixo e preso numa cadeira de rodas, Flynt continuou impulsionando a revista.

O pornô impresso, contudo, passou a não fazer tanto sucesso. E a decadência das revistas representou também o declínio de Flynt, que entrou numa espécie de ostracismo. Recluso em seu apartamento em Beverlly Hills, aparecia apenas ocasionalmente.

O filme O Povo contra Larry Flynt, dirigido por Milos Forman e estrelado por Woody Harrelson, tentou recontar a lendária vida do rei do pornô. No ano passado, uma biografia também tentou homenagear um dos mais polêmicos homens do EUA, viciado em anfetaminas e em constante depressão por estar preso numa cadeira de rodas.

Mas, pelo visto, a história de Flynt ganhou um novo capítulo com sua cruzada contra Trump.

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