José Maria Marin é antes de tudo um político.
Octogenário, aprendeu nos tempos da Ditadura como sobreviver.
Foi servindo aos partidos ligados aos militares, chegou longe.
A governador biônico de São Paulo.
De 1982 a 1983.
Foi apenas um ano.
Entre Paulo Maluf e Orestes Quércia.
Foi presidente da Federação Paulista de Futebol por quatro anos.
Entre 1982 e 1986.
Sim, foi governador e presidente da FPF ao mesmo tempo.
Um pé em cada canoa.
Virou vice-presidente da CBF, da região Sudeste.
Um cargo que deveria ser apenas honorífico, simbólico.
Ricardo Teixeira deveria ficar até quando quisesse na presidência.
Seu sucessor estava escolhido: Andrés Sanchez.
Foi quando surgiram as denúncias de propina da ISL.
E a investigação da Polícia Federal pelo jogo entre Brasil e Portugal.
Teixeira teve de pedir demissão.
O cargo caiu no colo de Marin.
Ele assumiu por ser não o mais brilhante.
O mais velho.
Já estava amarrado com Marco Polo del Nero.
“O único homem que nunca largou Marin”, me diz um presidente de clube.
O status de ter um ex-governador fazia bem a Marco Polo.
Ele sempre sonhou com a CBF.
Quando Marin ganhou a milionária instituição, prometeu.
“Você vai comigo.
Será o meu sucessor.”
Foi assim que os dois garantiram o poder.
E também a Copa do Mundo.
Marin se viu presidente do Comitê Organizador Local.
O cargo que já estava desgastado.
Foi descoberto que Ricardo Teixeira poderia com a Copa.
Poderia fazer negócios particulares envolvendo o Mundial.
Marin assumiu o COL já com a estrutura montada.
Não quis interferir.
No que funcionava e, principalmente, no que não funcionava.
Como os atrasos absurdos da Copa do Mundo.
Com cada Estado construindo sua arena.
Gastando o que quisesse, da forma que quisesse.
Sem o menor controle do COL ou de quem quer que seja.
Mas o cargo o obrigava a participar de várias cerimônias.
Como acompanhar a abertura da Copa das Confederações com Dilma.
A ex-guerrilheira sentava lado a lado de um representante da Ditadura.
“O Marin foi responsável pela prisão do meu pai.
Foi quem o levou às mãos dos torturadores e assassinos.
Se não fosse por ele, nada teria acontecido.”
A acusação é de Ivo Herzog.
Filho de Vladimir Herzog, morto nos porões da Ditadura.
Ele comandava o jornalismo da TV Cultura de São Paulo.
Marin discursou dizendo que a emissora estava dominada por comunistas.
Teria sido a deixa para os militares prenderem o Vladimir.
Herzog foi preso e morto nas dependências do DOI-Codi.
Órgão de inteligência e repressão do II Exército.
Ivo tentou ao máximo evitar que Marin ficasse à frente da Copa.
Não conseguiu.
O presidente da CBF nega ter causado a morte de Herzog.
E nem aceita se aprofundar no assunto.
Fugiu várias vezes em coletivas.
Fez de Marco Polo seu sucessor.
Quis ficar apenas até o final de 2014.
Aproveitar o prazer de ser tratado como um chefe de estado.
Quando chega aos estádios parece um rei.
Como em Goiânia.
No ultrapassado Serra Dourada.
Levou o Brasil até Goiás.
Para pagar promessa feita por Ricardo Teixeira.
De que a seleção iria se preparar em Goiânia para a Copa.
Isso o estado não ganhou.
Ficou com um jogo como compensação.
Encurralado nas tribunas, ele não teve como escapar.
Acabou dando entrevista.
E mostrando o quanto o presidente do COL renega o cargo.
“Eu não me preocupo com a Copa.
A minha preocupação é com a Seleção Brasileira.”
Nestas últimas semanas, Marin sumiu das arenas da Copa.
Principalmente as que estão atrasadas, com problemas.
Como o Itaquerão.
Não quer saber.
Os pedidos de entrevistas da imprensa internacional se acumulam.
Marin não quer falar.
Sabe que não é o momento.
Os vexames se sucedem.
Há medo da Fifa, principalmente da abertura.
A exposição de 30 mil pessoas à chuva.
A insegurança em relação à transmissão do jogo.
Mais de um bilhão de pessoas deverão ver Brasil e Croácia.
A satisfação de Marin era com a inauguração da nova sede da CBF.
Que deveria custar R$ 29 milhões.
Mas o custo encareceu.
Passou a R$ 100 milhões.
O prédio na Barra da Tijuca foi batizado.
De José Maria Marin, claro.
O dirigente não quer aborrecimentos.
Mesmo com o país estando a apenas dois dias da Copa.
Ele acredita que cumpriu a sua missão.
Completou o que Ricardo Teixeira encaminhou.
E sem desgaste público.
Sem preocupação com Dilma, com o Bom Senso.
Quer apenas desfrutar.
Tudo ligado à Seleção Brasileira.
Age como chefe de delegação.
Sobre organização da Copa, não quer nem saber.
Este é o presidente do Comitê Organizador Local.
Pessoa que deveria ser a responsável pelo Mundial no Brasil.
Como foi Beckenbauer pela Copa da Alemanha.
Platini, na da França.
Aqui, Marin rejeita o cargo
“Não me orgulho da Copa.
Me orgulho da Seleção”, repete.
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