Após denúncias, Romário pode conseguir a CPI do futsal

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Depoimentos exclusivos de Falcão, Vinícius e Vanessa. Os melhores do futsal do Brasil. Mostram tudo o que acontece de verdade. E por que sonham que uma CPI investigue a Confederação de Futsal. Documentos já chegam às mãos de Romário


A organização do futebol brasileiro é atrasada.

Mas a do futsal é absurda.

A renúncia de Falcão, o melhor jogador de todos os tempos, não foi por acaso.

Teve a intenção e conseguiu trazer luz ao esporte.

Abalou a Confederação Brasileira de Futsal.

Expôs seu presidente Aécio de Borba Vasconcelos.

Ele comanda o futsal do país há nada menos do que 35 anos!

Falcão tinha dois anos quando chegou ao poder.

Vinícius, melhor jogador do Mundial conquistado na Tailândia, tinha um.

Vanessa, a mais talentosa jogadora do planeta, nasceria nove anos depois.

A administração de Aécio veio à tona graças a Falcão.

A sua renúncia à Seleção só vale enquanto ele for o presidente.

Se sair, o melhor do mundo voltará.

Mas talvez não fique só na torcida.

Há a movimentação em Brasília em relação ao futsal.

Documentos estão chegando às mãos de Romário.

O ex-jogador e deputado federal poderá estar à frente de uma CPI.

Formar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar.

Analisar se há abusos na administração de Aécio.

Aqui depoimentos exclusivos ao blog.

De Falcão, de Vinícius e de Vanessa.

Talvez fique mais fácil entender o que está acontecendo.

O primeiro a mostrar sua revolta é o melhor do mundo, Falcão.

“Abrir mão de 16 anos de Seleção Brasileira foi terrível para mim. Mas tinha de tomar uma posição contra o que acontece no meu esporte. Resolvi comprar a briga, enfrentar uma ditadura de 35 anos. Como é possível alguém ficar 35 anos no poder? Tendo os presidentes de federações nas mãos… Ele só pensa em política e se esquece dos atletas. Ganhamos títulos e mais títulos para o nosso país. Mas somos tratados sem o menor respeito, consideração. Nos calamos por tempo demais. Mas agora acabou. Vou falar o que estava engasgado há anos. Não dizia porque pensava que iria atrapalhar o futsal. Mas agora entendi que vou fazer um bem para as novas gerações. Essa administração precisa ser investigada e trocada.

“Vou começar falando das péssimas condições que os jogadores da Seleção enfrentam. A começar pelas diárias. Diárias são só no nome. Muitas vezes ficamos 15, 20 dias nos preparando para uma partida. São R$ 1,5 mil por jogo oficial e R$ 1 mil por amistoso. Quem tem clube recebe do clube. Quem é da Seleção e não tem, precisa se virar com isso. A Confederação alega que não tem dinheiro. Mas comigo essa história não cola. Pelo simples motivo que os principais patrocinadores da Confederação são meus também. Ou seja: eu sei que eles pagam em dia. E muito dinheiro circula na Confederação. As marcas são fortes demais. Banco do Brasil, Correios, Chevrolet. Os valores são altíssimos. Perto de R$ 20 milhões para mais por ano. E onde vai parar esse dinheiro? Tanto dinheiro não é revertido para os clubes, para a organização de torneios, para os jogadores. Onde está esse dinheiro. Ninguém sabe. Falta transparência. Chega…

“Quero deixar bem claro, Cosme. Ninguém é mercenário, mas resolvemos deixar de agir como escravos. Queremos respeito. Posso dar exemplos que vão chocar qualquer pessoa, esportista ou não. Nós fomos obrigados a usar o tênis que a CBFS acertasse patrocínio. Obrigados. O tênis é material fundamental de trabalho dos atletas. Isso começou em 1997 e foi até 2008. Nós não tínhamos coragem de dizer à imprensa. Foi assim com a Pênalti, depois entrou a Dalponte e finalmente, a Topper. Eram contratos milionários e que todo o dinheiro ia para a Confederação. Quem não aceitasse não era convocado. Simples assim. Era como se o Marin obrigasse o Neymar, Hulk e Fred a jogar com chuteira Adidas. Foram vários casos de jogadores que atuaram com tênis que detestavam, que provocavam bolhas. Nos atrapalhava na quadra. Mas o que importava era o dinheiro que rendia. Nos rebelamos na Copa do Mundo no Rio em 2008. Seria a última vez. Ou então revelaríamos para a imprensa o que estávamos sendo obrigados a fazer. A Confederação recuou. E fizemos essa acordo. Só a partir de 2008 podemos atuar com os tênis que gostamos. E podemos fazer contratos particulares como todos os jogadores de futebol fazem. Foram 11 anos absurdos.

1reproducao13 897x1024 Depoimentos exclusivos de Falcão, Vinícius e Vanessa. Os melhores do futsal do Brasil. Mostram tudo o que acontece de verdade. E por que sonham que uma CPI investigue a Confederação de Futsal. Documentos já chegam às mãos de Romário...

“O Aécio, presidente da Confederação, tinha tudo para perder a eleição para Edson Nogueira. Ele estava articulado com várias federações. Pela primeira vez a oposição iria assumir. Quando viu que tudo estava perdido, Aécio ofereceu a Nogueira o comando da Seleção Brasileira. O presidente ficou só com a parte administrativa. Foi aí que começou o terror. Ele implantou regras absurdas, pior que Exército. A preocupação passou a ser com assuntos supérfluos. Como exigir barba feita, cabelo cortado. Proibiu os jogadores de cantar no ônibus. E até de usar fones de ouvido. Ele não aceita questionamento, reclamação de espécie alguma. Reclamou, o Nogueira afasta da Seleção. Não se preocupa com o time. Mas em mostrar autoridade. Foi assim que afastou o Tiago, o Vinícius. O diretor passa por cima dos técnicos com todo o apoio do Aécio. O que aconteceu no Mundial da Tailândia foi absurdo.

“A começar pela preparação. Ficamos no CT gigante construído em Caucaia no Ceará, terra do presidente da Confederação. Lá não tinha tevê, nem Internet. Mosquitos para todo o lado. Eu reclamei e veio a ameaça de ser cortado da Seleção. Só não fui porque a direção tinha medo dos meus patrocinadores. Mas o clima era péssimo. Depois veio a história da premiação se o Brasil ficasse com o título. O nosso time estava muito bem. E tudo indicava que ficaríamos com o título. Foi quando o presidente veio falar que a Confederação não tinha dinheiro. O máximo que iria fazer seria dar um bilhete de loteria que ele comprou. Se ele fosse sorteado, o prêmio seria nosso. Pensamos que era brincadeira. Mas era sério. Ele quis humilhar os jogadores. Mostrar que quem mandava era ele. Nós ganhamos o Mundial da Tailândia. E não recebemos um centavo. Nada, zero da Confederação. E ainda fomos avisados que se falássemos para a imprensa, não seríamos mais convocados. O Edson Nogueira avisava que não faltariam jogadores. É assim que as coisas funcionam no futsal desse país.

“Cansamos de pedir para a direção da CBFJ tentar incluir o futsal na Olimpíada. Ao menos como esporte de exibição. Mas não mexeram um dedo. Não sabemos qual o interesse… Depois do futebol, somos o esporte que é mais visto na tevê a cabo. Mas ninguém na Confederação se preocupa com os clubes. Fazer com que seus nomes sejam divulgados. Ela só aceita o dinheiro da transmissão e ponto final. Nós jogadores somos avisados para não reclamar de nada na imprensa. Fingir que está tudo às mil maravilhas. Mas acabou essa história.

“Fazemos amistosos contra equipes fracas como o Chile e tantas outras só por uma questão de economia. A Confederação arruma esses jogos que são perdas de tempo e não nos levam a nada. O Brasil não enfrenta adversários de verdade para a preparação de qualquer torneio. Só acontecem amistosos rentáveis. Se pensa no dinheiro e se esquece da parte técnica. É uma vergonha…

“O que eu peço para as autoridades é que investiguem a Confederação. Analisem suas contas. Pelo que ela recebe, as condições dos atletas deveriam ser muito melhores. Falo de hotel, treino, condições de trabalho. Não é possível tanto descaso. O ministro Aldo Rebelo precisa prestar atenção à nossa situação. Enquanto isso não acontece, não jogo mesmo mais na Seleção. Só volto um dia se esse presidente e esse diretor de seleções estiverem bem longe. Lamento, mas tinha de assumir uma postura. Depois de tudo o que aconteceu no vôlei, que as autoridades olhem para o futsal do Brasil. E investiguem as contas da Confederação Brasileira. Por favor…

2afp Depoimentos exclusivos de Falcão, Vinícius e Vanessa. Os melhores do futsal do Brasil. Mostram tudo o que acontece de verdade. E por que sonham que uma CPI investigue a Confederação de Futsal. Documentos já chegam às mãos de Romário...

Vinícius, melhor jogador do Mundial da Tailândia.

Ele é mais contido do que Falcão.

Só que teve a coragem de ir fundo.

Postou a carta escrita por Aécio.

Nela avisava antes do Mundial da Tailândia.

Não haveria dinheiro para a premiação.

E ele esperava o posicionamento dos atletas.

“Se alguém reclamasse, não iria.”

O capitão da Seleção e melhor jogador do Mundial resume.

Ele também decidiu não defender o Brasil.

Também mostrou sua indignação ao blog.

“Para mim chega! Com Aécio ou sem Aécio. O que acontece na Seleção Brasileira é muito grave. A Confederação Brasileira precisa ser investigada a fundo. O que acontece é absurdo. Por muito tempo, nós jogadores, nos calamos. Erramos, perdemos tempo. Não queríamos arrumar confusão. Mas tem muita coisa errada. Vou dar um exemplo que pode parar o esporte no Brasil. E que mostra como as coisas são perigosamente amadoras. A Confederação fechou contrato da Liga de Futsal com o canal a cabo Sportv. O contrato tem anos e vai até 2020… Só que nunca nenhum atleta assinou liberando o direito de Arena para o clube. O clube cede para a Confederação. E ela repassa para a tevê. Isso nunca foi feito nos clubes. Se alguém resolver processar a tevê por mostrar sua imagem pode fazer. A legislação brasileira obriga que todos atletas assinem. Só assim as transmissões podem ser feitas. No futsal, a Confederação não liga para isso.

“Eu tenho muita preocupação em relação a não passar a imagem de mercenário. Não estamos protestando porque simplesmente queremos dinheiro. E sim pela maneira como as coisas acontecem no nosso esporte. Como a Confederação administra mal. Como os atletas não são remunerados nem ganhando títulos importantíssimos. E tendo plena consciência de quanto a Confederação está bem financeiramente. A revolta é pela injustiça. Por tudo que tivemos de suportar calados. Como a imposição dos tênis e não poder questionar nada. A carta em tom de ameaça da Confederação foi a gota d’água. Não tem cabimento o que acontece com o nosso esporte. Eu apoio o Falcão e a Vanessa. Se nós homens somos pressionados, é inacreditável o que acontece com as mulheres.”

Vinícius tinha razão.

Fiz questão de ouvir Vanessa.

Muita gente talvez não saiba.

Mas temos a melhor jogadora de futsal do mundo.

Ela também está revoltada.

E está coberta de motivos.

“Não é possível a Confederação com tanto dinheiro e expondo a Seleção Brasileira Feminina a vexames. Como no Mundial da Espanha. Nós éramos 14 jogadoras. Ficamos em um alojamento, nem hotel quiseram gastar. Éramos sete em cada quarto. Sete! Dois banheiros para sete meninas. Não tinha televisão, Internet. Alguém arrumou uma televisão emprestada para colocar no nosso quarto. Não tínhamos fisioterapeuta. Tivemos de arrumar um emprestado de um clube. Um vexame. As condições foram péssimas. Mesmo assim, fomos campeãs. Pela quarta vez seguidas, tetracampeões do mundo. Aí veio a hora da premiação.

“Nos prometeram R$ 15 mil para cada atleta. Tudo certo. Mas quando chegamos no Brasil, recebemos uma carta do presidente da Confederação. Ele só teria dinheiro para pagar R$ 6 mil. E ponto final. Ninguém poderia reclamar, questionar. Não teve maior explicação. Foi assim e ponto final. Só que esse dinheiro não chegou. Como também a premiação que tínhamos direito em um amistoso pelos 350 anos de aniversário dos Correios.

“Eu tive um enorme problema com a minha bolsa atleta que tenho direito. O presidente da Confederação, doutor Aécio, não queria assinar. Sem a sua assinatura, não receberia o dinheiro. O motivo foi que eu dei apoio a um jornalista que criticou a falta de calendário do futebol de salão feminino. O presidente me disse que como poderia ajudar a uma atleta que quer prejudicar o esporte? Tive de implorar, me desculpar, me humilhar para ele assinar e liberar o dinheiro que tinha direito.

“A diretoria da Confederação não aceita contestação. Como na escolha dos treinadores das Seleções. O principal da masculina vira auxiliar da feminina. E o auxiliar da masculina treina a feminina. Não importa se ele conheça as atletas ou não. É tudo na base do improviso. Sem a menor preocupação em escolher de verdade as melhores. Como a Liga e a Taça Brasil são torneios improvisados, o critério para a convocação para um Mundial é o desempenho no anterior. Coisa absurda, sem nexo. A última vez que a televisão mostrou a Seleção Brasileira Feminina jogando foi em 2011. Em 2010 um clube pagou a uma tevê a cabo para que mostrasse um jogo. Não há a menor preocupação da Confederação em desenvolver o nosso esporte. Mesmo sendo tetracampeãs do mundo. Os dirigentes dos nossos clubes são heróis. Fazem tudo pelo esporte. Eu tenho mais orgulho de vestir a camisa do meu time daqui de Chapecó do que da Seleção. Sei o trabalho dos dirigentes para nos fazer campeãs sul-americanas, pentas da Liga Feminina, tetras da Taça Brasil. E ainda tricampeãs do mundo. Amo o meu país, mas não vou concordar nunca com o que acontece na administração do meu esporte.

“Há muita coisa errada. Principalmente porque todos nós sabemos o quanto a Confederação Brasileira é rica. Não sei se serei mais convocada depois das minhas declarações. Mas precisava falar. Torço também para que as autoridades olhem para o nosso esporte. Todos pedem por mais transparência no esporte brasileiro. No futsal feminino e masculino não há nenhuma. Isso precisa acabar. Muito obrigado por nos ouvir. Não suportamos mais essa situação.”
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